terça-feira, 24 de dezembro de 2019

NATAL: JESUS NASCEU!

Gn 3.15; Is 9.6; Mq 5.2; Mt 1. 18-25; 2. 1-13; Lc 2. 1-14

É chegado o Natal e como em todos os anos surgem aqueles que são contra as comemorações natalinas com as mais diversas alegações: "Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro; o calendário judaico é diferente do gregoriano; árvore de natal tem origem no paganismo; Papai Noel é inspirado em São Nicolau, além de ser um marketing da Coca-cola; é uma época apenas de fomentação do comércio; etc." Todo ano a mesma coisa, e é claro que estes questionamentos vem de pessoas salvas, que tiveram um encontro com Jesus. Já parou para pensar que o ímpio sequer pensa nisso? Já parou para pensar que os ímpios montam os seus presépios, enfeitam as fachadas das casas, montam suas árvores de natal, mas mesmo com todos os erros, o propósito é celebrar o nascimento de Jesus? Pois é, e entre os salvos o que se vê são discussões periféricas que tentam de alguma forma macular as comemorações do nascimento de Jesus.
Deixadas de lado as argumentações frágeis, muitas delas sem fundamentos ou provas cabíveis, pois ficam apenas no campo das especulações, vamos nos lembrar de quem estamos falando, quem estamos celebrando, e qual o nosso papel enquanto cristãos em uma data tão especial como o Natal.
Primeiramente é importante lembrar que a primeira promessa de nascimento de Jesus veio após o pecado do Éden. Já em Gn 3.15 lemos a primeira promessa de que nasceria um que pisaria na cabeça da serpente, o diabo, nosso adversário. Esse texto é conhecido como Proto-Evangelho. Proto significa "início, primeiro", evangelho significa "boas novas, boas notícias". Portanto, Gn 3.15 foi o "início das boas notícias, das boas novas". Em um momento de crise, de fracasso, de queda do homem, Deus trás uma "boa notícia", uma notícia de esperança, Ele enviaria o seu Filho nascido de uma mulher para remissão da humanidade.
Ao longo do Antigo Testamento encontraremos diversas profecias alusivas ao nascimento de Jesus, ao surgimento do Filho de Deus, revestido de graça e autoridade, trazendo cura e libertação ao povo. Entre os textos, citarei Isaías 9.6, em que o profeta inspirado por Deus anuncia o nascimento de Jesus: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." Que promessa gloriosa! Um menino nos nasceu, de uma uma virgem, a jovem Maria, mas o "filho se nos deu", pois já era o Filho Eterno de Deus. O menino nascido é o Filho dado por Deus para remissão dos pecados de toda a humanidade. Ele vem revestido de adjetivos que o exaltam: Ele é Maravilhoso, Ele é o sábio Conselheiro que tem sempre uma palavra de direção e orientação, Ele é o Deus Forte que vence todas as batalhas, Ele é o Pai da Eternidade, cuja existência não tem início, nem fim de dias, Ele é o Príncipe da Paz, que trás esperança e alento a um  mundo tomado pelo ódio, rancor e violência. Esse é o Jesus que celebraremos nesse Natal.
Outrossim, Miquéias 5.2 anuncia até o local de seu nascimento: Belém Efrata. Deus escolheu uma cidade "pequena entre milhares de Judá" para de lá sair Aquele que seria o "Senhor de Israel", Senhor da Igreja, o Rei da Glória (Sl 24). Ao lermos Mateus 2. 1-12 e Lucas 2. 1-7 vemos o cumprimento dessa profecia. Lucas, historiador, dá os detalhes do porquê Jesus nasceu em Belém. José e Maria eram moradores de Nazaré, mas por um decreto de César Augusto deveriam ir para sua terra de origem para responder a um censo. Era o censo demográfico do IBGE da época. Como eram da "casa e família de Davi" deveriam ir à Belém. Ao chegar na cidade, Maria já grávida, entra em trabalho de parto, e como a cidade estava cheia devido ao censo, não se achou lugar para o casal em nenhuma hospedaria, sendo necessário que o Filho de Deus nascesse em um estábulo de animais, e fosse colocado em uma manjedoura, lugar onde se colocava alimentos para o gado. Um nascimento simples, para um Grande Rei. Porém, era o Pão da Vida, nascendo em Belém, a "casa do pão". Era o Pão da Vida nascendo na manjedoura, para alimentar o mundo. Era o Pão da Vida nascendo em uma situação de escassez, sendo Ele o dono de tudo. Parece antagônico, mas é Deus trabalhando no egoismo e soberba humana, com simplicidade, com ternura, com amor. Não havia lugar para eles na estalagem, mas o Seu nascimento foi adorado no céu. Os anjos sabiam quem estava nascendo: "o Salvador, que é Cristo, o Senhor". (Lc 2.11). Como em uma cena orquestrada, junto ao anjo que anunciou o nascimento de Jesus apareceram uma "multidão dos exército celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens." (Lc 2.14). O nascimento de Jesus trouxe adoração a Deus, trouxe mensagem de paz na terra, e demostrou a boa vontade de Deus aos homens, ao enviar o Seu único Filho em prol da humanidade.
Saindo de Lucas, voltando para Mateus, este evangelista enfatiza: "...porque assim está escrito pelo profeta..." (Mt 2.5). O nascimento de Jesus era o cumprimento das profecias, nos mínimos detalhes. Era o Verbo de Deus, a Palavra de Deus se fazendo carne, era o Deus do Antigo Testamento tabernaculando e vivendo entre os homens (Jo 1.14). Mateus relata que os magos vieram a Belém e adoraram o "Rei dos Judeus", depositando aos seus pés ouro, incenso e mirra. Essa história encheu o coração de Herodes de ciúmes, pois que a presença de um novo rei ameaçaria o seu próprio reino. Ele ordena a morte do menino (Mt 2.13). Pelo que parece, já nos dias de sua data natalícia, Jesus já dividia opiniões. Já existiam aqueles que o adoraram e aqueles que queriam a sua morte.
Penso que o surgimento de Jesus, já no ventre de Maria, foi motivo de alvoroço no inferno. A visita do anjo a Maria, a gravidez na virgindade, algo inédito, o alerta do anjo a José para que não abandonasse a noiva, o nascimento virginal. Penso que isso alvoraçou o inferno. Era algo sobrenatural. Era o cumprimento de Gn 3.15! Sem dúvida, Satanás foi o inimigo número um do nascimento de Jesus, porém Deus já tinha os seus planos. Sobre Maria desceu "o Espírito Santo", "e a virtude do Altíssimo" a cobriu "com a sua sombra", pois o que nela estava sendo gerado era "o Filho de Deus". (Lc 1. 35). A gestação de Maria tinha tudo para ser a mais complicada possível, se ele não estivesse sobre a "Sombra do Altíssimo" (Sl 91). Vencida a gestação, Satanás não satisfeito, suscita o ódio de Herodes para matar o menino, fazendo com que seus pais fugissem para o Egito até a morte desse governante. Há realmente alguém que não está interessado em comemorar o nascimento de Jesus.
Agora, mais de dois mil anos depois, estamos a algumas horas de celebrar o nascimento de Jesus. Nós cristãos evangélicos, deveríamos ser os primeiros a celebrar em alta voz que Jesus nasceu. Gritar ao mundo que a vinda de Jesus faz parte de um plano eterno de salvação, escrito desde a fundação do mundo. Que o seu nascimento foi o início de uma trajetória até a Cruz. Que somente Ele é a mensagem de "boas novas", portador das "boas notícias" para um mundo perdido, envolto em ódio e violência. Não deixemos que o que é periférico traga embaraços para a celebração do Dono da Vida. Nossa prioridade não é árvore de natal, papai noel ou saber exatamente a data do nascimento de Jesus. Isso não importa. Não é dar as mãos ao espírito de Herodes e apagar a glória do nascimento de Jesus. Vamos nos juntar à "multidão dos exércitos celestiais" e louvar a Deus porque Jesus nasceu. Nós, mais do que ninguém, celebramos em todos os dias do ano o seu nascimento e sua morte. Nesta data específica, o Natal, temos a oportunidade de testemunhar o nosso amor e gratidão Àquele que nasceu menino, mas era o Filho Eterno dado por Deus.

Feliz Natal! Com árvore ou sem árvore. Jesus é o centro!

Em Cristo,

Pr. Samuel Eudóxio


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Suicídio de pastores

Falar sobre o suicídio é inevitável. Até pouco tempo atrás tinha-se a ideia de que falar sobre o assunto aumentaria o número de casos, o que é uma inverdade. Uma boa conversa ou debate sobre o auto extermínio pode identificar pessoas ao nosso lado que têm essa tendência e pode salvar vidas.
O número de pessoas que tiram a própria vida é alarmante. Chega a 800 mil pessoas por ano, o que equivale dizer que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. Vale dizer que as taxas globais caíram 9,8 % entre 2010 e 2016. Especialistas apontam estratégias de prevenção como a causa do declínio nessa taxa, o que só ressalta a importância de se falar no assunto, implantar programas de prevenção, conhecer as vitimas potenciais e tentar ajudar de alguma forma. 
No Brasil, ao contrário das estatísticas mundiais, o número ainda é grande, apontando aumento de 24%  entre os anos de 2006 e 2015, entre adolescentes entre 10 e 17 anos moradores de grandes cidades, com destaque para Belo Horizonte (MG), que registrou 3,13 caso para cada 100 mil habitantes. 
Com números tão alarmantes, passamos a ver casos de suicídio nas diversas camadas sociais e profissionais. Policiais, médicos, professores, estudantes, crianças, adolescentes, pastores. Pastores? Sim, pastores. 
É sabido que o pastorado é uma vocação, e não uma profissão propriamente dita. No entanto, sabemos que o pastorado é uma atividade laboral cansativa, que exige do vocacionado tempo integral em suas atividades, que envolvem nada mais, nada menos que cuidar dos problemas alheios. Ele, além de pastor, é esposo, pai, psicologo, médico, psiquiatra, conselheiro, conciliador, juiz de paz, terapeuta, teólogo, orador, ensinador, pregador, entre tantas outras atividades esperadas do pastor. No meio disso tudo, esquecemos que o pastor tem alma, é ovelha, tem sentimentos, é alguém como nós, que precisa de atenção e cuidados.
Entre os casos recentes de suicídio de pastores, que podem ser pesquisados na própria internet, temos aqueles que estavam envolvidos em problemas extraconjugais, outro acusado de abuso sexual, entre outros casos. Porém, nas sua maioria, o peso do ministério pastoral tem sido apontado ou discutido como uma das principais causas do auto extermínio de pastores. Nesse sentido, o ofício de pastorear parece ser um fardo difícil de carregar, algo que passa a ser indesejado pelos jovens candidatos. Mas, será quais são as principais causas de estresse no pastorado, que tem levado pastores a adoecerem e tirarem a própria vida?
Sem querer parecer a resposta definitiva, a experiência mostra que os assuntos ministeriais, internos, são mais desgastantes do que o cuidado com a própria igreja. O pastor moderno transformou-se em uma espécie de empreendedor espiritual, cujo perfil deve suprir a demanda de mercado dos fiéis. Em um mundo cada vez mais rápido, levado pelas tecnologias, o pastor vê-se obrigado a acompanhar as tendências de exigência do mercado da fé. Ele precisa ser muito mais que um vocacionado, um homem de Deus, ele precisa se adequar ao público, e mais ainda, a um sistema eclesiástico que exclui, sem dó ou piedade, aquele que não se adequar. É comum ouvirmos velhos pastores dizendo a seguinte frase: "Não sou pastor para essa geração", ou "Não sou pastor para esse tempo." E nesse afã de suprir as demandas ministeriais para os tempos modernos, ou de um ministério totalmente alheio ao propósito bíblico, surge um sistema político onde sobrevive o mais forte. Falta ética, respeito, camaradagem, compromisso com os pastores e suas famílias. Encontramos um ministério onde sobra intrigas, divisões, traições, conchavos, ataques, barganhas, e isso por parte inclusive de algumas de nossas lideranças. 
Resultado: pastores doentes, não por causa de sua vocação ou pelo cuidado da igreja, mas pelo contexto extremamente cansativo que sem dúvida vai lhe causar esgotamento físico, espiritual e psicológico. O que entristece é a falta de humildade para o reconhecimento que estamos no rumo errado, que precisamos mudar, que é preciso dar segurança aos nossos pastores para que eles cumpram com alegria o seu ministério. 
Muitos desses pastores deixaram profissão para trás, cidades, círculos profissionais, carreiras, sonhos pessoais. Alguns, provaram para suas próprias esposas que valia a pena deixa tudo e servir ao ministério. Por isso, é tão difícil encarar a realidade e voltar atrás, como ouvimos muitos dizerem: "Por que não entregou o ministério e continuou a vida?" Não é tão fácil. Além de tudo já mencionado, vem o sentimento pessoal de fracasso, de estar fazendo muito e colhendo pouco, de falta de reconhecimento, ou simplesmente de não estar atendendo a sua vocação como deveria. Recuar no ministério, voltar para casa, é ser visto como alguém que "tirou a mão no arado", alguém que não é digno, mesmo nesse contexto retromencionado. Tem que ser muito forte.
Portanto, mais do que um peso colocado pela igreja na vida dos pastores que tiram a própria vida, ou o peso da própria vocação, este texto o convida a analisar o peso colocado pelo sistema "ministerial moderno", onde a ter é mais importante do que o ser. Onde a luxúria tomou o lugar da simplicidade. Onde o poder se mede pelo número de igrejas que se possui. Sim, possui. Onde conviver com o pecado passou a ser comum, em nome de uma pseuda ética ou moral. Onde vale mais, quem tem mais. Um lugar que  deveria produzir vida, mas que para alguns tornou-se motivo de morte. 
Que Deus restaure o ministério brasileiro. Que o Senhor nos ajude a melhorar. Que a nossa vida seja instrumento de restauração. Que o nosso altar seja restaurado. Que a beleza do ministério ainda possa atrair jovens vocacionados. Que tenhamos a convicção que o verdadeiro ministério, divino, é sem máculas ou manchas, é santo. Que o ministério cuide, e não mate.

Deus abençoe a sua vida.

Pr. Samuel Eudóxio