terça-feira, 24 de dezembro de 2019

NATAL: JESUS NASCEU!

Gn 3.15; Is 9.6; Mq 5.2; Mt 1. 18-25; 2. 1-13; Lc 2. 1-14

É chegado o Natal e como em todos os anos surgem aqueles que são contra as comemorações natalinas com as mais diversas alegações: "Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro; o calendário judaico é diferente do gregoriano; árvore de natal tem origem no paganismo; Papai Noel é inspirado em São Nicolau, além de ser um marketing da Coca-cola; é uma época apenas de fomentação do comércio; etc." Todo ano a mesma coisa, e é claro que estes questionamentos vem de pessoas salvas, que tiveram um encontro com Jesus. Já parou para pensar que o ímpio sequer pensa nisso? Já parou para pensar que os ímpios montam os seus presépios, enfeitam as fachadas das casas, montam suas árvores de natal, mas mesmo com todos os erros, o propósito é celebrar o nascimento de Jesus? Pois é, e entre os salvos o que se vê são discussões periféricas que tentam de alguma forma macular as comemorações do nascimento de Jesus.
Deixadas de lado as argumentações frágeis, muitas delas sem fundamentos ou provas cabíveis, pois ficam apenas no campo das especulações, vamos nos lembrar de quem estamos falando, quem estamos celebrando, e qual o nosso papel enquanto cristãos em uma data tão especial como o Natal.
Primeiramente é importante lembrar que a primeira promessa de nascimento de Jesus veio após o pecado do Éden. Já em Gn 3.15 lemos a primeira promessa de que nasceria um que pisaria na cabeça da serpente, o diabo, nosso adversário. Esse texto é conhecido como Proto-Evangelho. Proto significa "início, primeiro", evangelho significa "boas novas, boas notícias". Portanto, Gn 3.15 foi o "início das boas notícias, das boas novas". Em um momento de crise, de fracasso, de queda do homem, Deus trás uma "boa notícia", uma notícia de esperança, Ele enviaria o seu Filho nascido de uma mulher para remissão da humanidade.
Ao longo do Antigo Testamento encontraremos diversas profecias alusivas ao nascimento de Jesus, ao surgimento do Filho de Deus, revestido de graça e autoridade, trazendo cura e libertação ao povo. Entre os textos, citarei Isaías 9.6, em que o profeta inspirado por Deus anuncia o nascimento de Jesus: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." Que promessa gloriosa! Um menino nos nasceu, de uma uma virgem, a jovem Maria, mas o "filho se nos deu", pois já era o Filho Eterno de Deus. O menino nascido é o Filho dado por Deus para remissão dos pecados de toda a humanidade. Ele vem revestido de adjetivos que o exaltam: Ele é Maravilhoso, Ele é o sábio Conselheiro que tem sempre uma palavra de direção e orientação, Ele é o Deus Forte que vence todas as batalhas, Ele é o Pai da Eternidade, cuja existência não tem início, nem fim de dias, Ele é o Príncipe da Paz, que trás esperança e alento a um  mundo tomado pelo ódio, rancor e violência. Esse é o Jesus que celebraremos nesse Natal.
Outrossim, Miquéias 5.2 anuncia até o local de seu nascimento: Belém Efrata. Deus escolheu uma cidade "pequena entre milhares de Judá" para de lá sair Aquele que seria o "Senhor de Israel", Senhor da Igreja, o Rei da Glória (Sl 24). Ao lermos Mateus 2. 1-12 e Lucas 2. 1-7 vemos o cumprimento dessa profecia. Lucas, historiador, dá os detalhes do porquê Jesus nasceu em Belém. José e Maria eram moradores de Nazaré, mas por um decreto de César Augusto deveriam ir para sua terra de origem para responder a um censo. Era o censo demográfico do IBGE da época. Como eram da "casa e família de Davi" deveriam ir à Belém. Ao chegar na cidade, Maria já grávida, entra em trabalho de parto, e como a cidade estava cheia devido ao censo, não se achou lugar para o casal em nenhuma hospedaria, sendo necessário que o Filho de Deus nascesse em um estábulo de animais, e fosse colocado em uma manjedoura, lugar onde se colocava alimentos para o gado. Um nascimento simples, para um Grande Rei. Porém, era o Pão da Vida, nascendo em Belém, a "casa do pão". Era o Pão da Vida nascendo na manjedoura, para alimentar o mundo. Era o Pão da Vida nascendo em uma situação de escassez, sendo Ele o dono de tudo. Parece antagônico, mas é Deus trabalhando no egoismo e soberba humana, com simplicidade, com ternura, com amor. Não havia lugar para eles na estalagem, mas o Seu nascimento foi adorado no céu. Os anjos sabiam quem estava nascendo: "o Salvador, que é Cristo, o Senhor". (Lc 2.11). Como em uma cena orquestrada, junto ao anjo que anunciou o nascimento de Jesus apareceram uma "multidão dos exército celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens." (Lc 2.14). O nascimento de Jesus trouxe adoração a Deus, trouxe mensagem de paz na terra, e demostrou a boa vontade de Deus aos homens, ao enviar o Seu único Filho em prol da humanidade.
Saindo de Lucas, voltando para Mateus, este evangelista enfatiza: "...porque assim está escrito pelo profeta..." (Mt 2.5). O nascimento de Jesus era o cumprimento das profecias, nos mínimos detalhes. Era o Verbo de Deus, a Palavra de Deus se fazendo carne, era o Deus do Antigo Testamento tabernaculando e vivendo entre os homens (Jo 1.14). Mateus relata que os magos vieram a Belém e adoraram o "Rei dos Judeus", depositando aos seus pés ouro, incenso e mirra. Essa história encheu o coração de Herodes de ciúmes, pois que a presença de um novo rei ameaçaria o seu próprio reino. Ele ordena a morte do menino (Mt 2.13). Pelo que parece, já nos dias de sua data natalícia, Jesus já dividia opiniões. Já existiam aqueles que o adoraram e aqueles que queriam a sua morte.
Penso que o surgimento de Jesus, já no ventre de Maria, foi motivo de alvoroço no inferno. A visita do anjo a Maria, a gravidez na virgindade, algo inédito, o alerta do anjo a José para que não abandonasse a noiva, o nascimento virginal. Penso que isso alvoraçou o inferno. Era algo sobrenatural. Era o cumprimento de Gn 3.15! Sem dúvida, Satanás foi o inimigo número um do nascimento de Jesus, porém Deus já tinha os seus planos. Sobre Maria desceu "o Espírito Santo", "e a virtude do Altíssimo" a cobriu "com a sua sombra", pois o que nela estava sendo gerado era "o Filho de Deus". (Lc 1. 35). A gestação de Maria tinha tudo para ser a mais complicada possível, se ele não estivesse sobre a "Sombra do Altíssimo" (Sl 91). Vencida a gestação, Satanás não satisfeito, suscita o ódio de Herodes para matar o menino, fazendo com que seus pais fugissem para o Egito até a morte desse governante. Há realmente alguém que não está interessado em comemorar o nascimento de Jesus.
Agora, mais de dois mil anos depois, estamos a algumas horas de celebrar o nascimento de Jesus. Nós cristãos evangélicos, deveríamos ser os primeiros a celebrar em alta voz que Jesus nasceu. Gritar ao mundo que a vinda de Jesus faz parte de um plano eterno de salvação, escrito desde a fundação do mundo. Que o seu nascimento foi o início de uma trajetória até a Cruz. Que somente Ele é a mensagem de "boas novas", portador das "boas notícias" para um mundo perdido, envolto em ódio e violência. Não deixemos que o que é periférico traga embaraços para a celebração do Dono da Vida. Nossa prioridade não é árvore de natal, papai noel ou saber exatamente a data do nascimento de Jesus. Isso não importa. Não é dar as mãos ao espírito de Herodes e apagar a glória do nascimento de Jesus. Vamos nos juntar à "multidão dos exércitos celestiais" e louvar a Deus porque Jesus nasceu. Nós, mais do que ninguém, celebramos em todos os dias do ano o seu nascimento e sua morte. Nesta data específica, o Natal, temos a oportunidade de testemunhar o nosso amor e gratidão Àquele que nasceu menino, mas era o Filho Eterno dado por Deus.

Feliz Natal! Com árvore ou sem árvore. Jesus é o centro!

Em Cristo,

Pr. Samuel Eudóxio


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Suicídio de pastores

Falar sobre o suicídio é inevitável. Até pouco tempo atrás tinha-se a ideia de que falar sobre o assunto aumentaria o número de casos, o que é uma inverdade. Uma boa conversa ou debate sobre o auto extermínio pode identificar pessoas ao nosso lado que têm essa tendência e pode salvar vidas.
O número de pessoas que tiram a própria vida é alarmante. Chega a 800 mil pessoas por ano, o que equivale dizer que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. Vale dizer que as taxas globais caíram 9,8 % entre 2010 e 2016. Especialistas apontam estratégias de prevenção como a causa do declínio nessa taxa, o que só ressalta a importância de se falar no assunto, implantar programas de prevenção, conhecer as vitimas potenciais e tentar ajudar de alguma forma. 
No Brasil, ao contrário das estatísticas mundiais, o número ainda é grande, apontando aumento de 24%  entre os anos de 2006 e 2015, entre adolescentes entre 10 e 17 anos moradores de grandes cidades, com destaque para Belo Horizonte (MG), que registrou 3,13 caso para cada 100 mil habitantes. 
Com números tão alarmantes, passamos a ver casos de suicídio nas diversas camadas sociais e profissionais. Policiais, médicos, professores, estudantes, crianças, adolescentes, pastores. Pastores? Sim, pastores. 
É sabido que o pastorado é uma vocação, e não uma profissão propriamente dita. No entanto, sabemos que o pastorado é uma atividade laboral cansativa, que exige do vocacionado tempo integral em suas atividades, que envolvem nada mais, nada menos que cuidar dos problemas alheios. Ele, além de pastor, é esposo, pai, psicologo, médico, psiquiatra, conselheiro, conciliador, juiz de paz, terapeuta, teólogo, orador, ensinador, pregador, entre tantas outras atividades esperadas do pastor. No meio disso tudo, esquecemos que o pastor tem alma, é ovelha, tem sentimentos, é alguém como nós, que precisa de atenção e cuidados.
Entre os casos recentes de suicídio de pastores, que podem ser pesquisados na própria internet, temos aqueles que estavam envolvidos em problemas extraconjugais, outro acusado de abuso sexual, entre outros casos. Porém, nas sua maioria, o peso do ministério pastoral tem sido apontado ou discutido como uma das principais causas do auto extermínio de pastores. Nesse sentido, o ofício de pastorear parece ser um fardo difícil de carregar, algo que passa a ser indesejado pelos jovens candidatos. Mas, será quais são as principais causas de estresse no pastorado, que tem levado pastores a adoecerem e tirarem a própria vida?
Sem querer parecer a resposta definitiva, a experiência mostra que os assuntos ministeriais, internos, são mais desgastantes do que o cuidado com a própria igreja. O pastor moderno transformou-se em uma espécie de empreendedor espiritual, cujo perfil deve suprir a demanda de mercado dos fiéis. Em um mundo cada vez mais rápido, levado pelas tecnologias, o pastor vê-se obrigado a acompanhar as tendências de exigência do mercado da fé. Ele precisa ser muito mais que um vocacionado, um homem de Deus, ele precisa se adequar ao público, e mais ainda, a um sistema eclesiástico que exclui, sem dó ou piedade, aquele que não se adequar. É comum ouvirmos velhos pastores dizendo a seguinte frase: "Não sou pastor para essa geração", ou "Não sou pastor para esse tempo." E nesse afã de suprir as demandas ministeriais para os tempos modernos, ou de um ministério totalmente alheio ao propósito bíblico, surge um sistema político onde sobrevive o mais forte. Falta ética, respeito, camaradagem, compromisso com os pastores e suas famílias. Encontramos um ministério onde sobra intrigas, divisões, traições, conchavos, ataques, barganhas, e isso por parte inclusive de algumas de nossas lideranças. 
Resultado: pastores doentes, não por causa de sua vocação ou pelo cuidado da igreja, mas pelo contexto extremamente cansativo que sem dúvida vai lhe causar esgotamento físico, espiritual e psicológico. O que entristece é a falta de humildade para o reconhecimento que estamos no rumo errado, que precisamos mudar, que é preciso dar segurança aos nossos pastores para que eles cumpram com alegria o seu ministério. 
Muitos desses pastores deixaram profissão para trás, cidades, círculos profissionais, carreiras, sonhos pessoais. Alguns, provaram para suas próprias esposas que valia a pena deixa tudo e servir ao ministério. Por isso, é tão difícil encarar a realidade e voltar atrás, como ouvimos muitos dizerem: "Por que não entregou o ministério e continuou a vida?" Não é tão fácil. Além de tudo já mencionado, vem o sentimento pessoal de fracasso, de estar fazendo muito e colhendo pouco, de falta de reconhecimento, ou simplesmente de não estar atendendo a sua vocação como deveria. Recuar no ministério, voltar para casa, é ser visto como alguém que "tirou a mão no arado", alguém que não é digno, mesmo nesse contexto retromencionado. Tem que ser muito forte.
Portanto, mais do que um peso colocado pela igreja na vida dos pastores que tiram a própria vida, ou o peso da própria vocação, este texto o convida a analisar o peso colocado pelo sistema "ministerial moderno", onde a ter é mais importante do que o ser. Onde a luxúria tomou o lugar da simplicidade. Onde o poder se mede pelo número de igrejas que se possui. Sim, possui. Onde conviver com o pecado passou a ser comum, em nome de uma pseuda ética ou moral. Onde vale mais, quem tem mais. Um lugar que  deveria produzir vida, mas que para alguns tornou-se motivo de morte. 
Que Deus restaure o ministério brasileiro. Que o Senhor nos ajude a melhorar. Que a nossa vida seja instrumento de restauração. Que o nosso altar seja restaurado. Que a beleza do ministério ainda possa atrair jovens vocacionados. Que tenhamos a convicção que o verdadeiro ministério, divino, é sem máculas ou manchas, é santo. Que o ministério cuide, e não mate.

Deus abençoe a sua vida.

Pr. Samuel Eudóxio

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

LIÇÃO 02: A NATUREZA DOS ANJOS – A BELEZA DO MUNDO ESPIRITUAL

LIÇÕES BÍBLICAS CPAD - 1º TRIMESTRE DE 2019
Obs: este material traz informações adicionais ao comentário da revista, segue a ordem de tópicos e os assuntos contidos em cada tópico tem a ver com o referido tópico da lição de forma geral, e não aborda os subtópicos separadamente.

Texto Áureo: Sl 103. 20
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Lc 1. 26 - 35

Introdução: Veremos na lição que os anjos são seres espirituais, sobrenaturais, e não apenas mitos ou lendas. Eles são reais, estão na Bíblia, e já apareceram às diversas pessoas, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento.

I – OS ANJOS
Vejamos algumas informações importantes sobre os anjos:
A – Foram criados
“Existe uma única maneira de demitologizar as fantasias populares a respeito dos anjos – voltar a realidade bíblica.” (HORTON, p. 195)
O cristão não pode enxergar os anjos como os demais os vêm, de acordo com a mitologia e as muitas fantasias que se constroem em torno do assunto. O propósito da lição é justamente orientar o cristão acerca da realidade dos anjos e ensiná-los o seu verdadeiro papel.
Primeiramente, eles são criaturas de Deus, ou seja, foram criados, e não têm autoexistência. Presumir quando foram criados e outra tarefa desnecessária, visto que nunca conseguiremos chegar a uma conclusão, porém podemos inferir que foram criados em uma só ocasião. “Foram formados por Cristo e para Ele quando ‘mandou e logo foram criados’ (Sl 148. 5; Cl 1. 16, 17; 1 Pe 3. 22)”. (HORTON, p. 196).
Se foram criados, logo não são eternos, mas perpétuos. Eles tiveram um começo, mas não terão fim, pois estarão presentes nos tempos eternos e na Nova Jerusalém (Hb 12. 22; Ap 21. 9, 12). Lembre-se: somente Deus tem a imortalidade (1 Tm 6. 16).

B – São seres espirituais.
A Bíblia os descrevem como “espíritos ministradores” (Hb 1. 13, 14; Sl 104. 4). No entanto, a Bíblia mostra-os materializando-se e apresentando-se aos homens (Gn 18. 1, 2; 32. 24-30; Dn 8. 15, 16; 1 Rs 19. 5-7; Lc 1. 26-38; Lc 1.11; Lc 2. 8,9. Como seres espirituais é importante salientar que eles não se casam (Mt 22. 30), e são assexuados, certamente, o que descarta a possibilidade deles terem contato sexual com as muheres de Gn 6, conforme alguns ensinam.

C – São inteligentes e poderosos.
Pelo que deles se registra na Bíblia, os anjos em tudo excedem o homem em conhecimento e sabedoria. A Bíblia os apresenta mais sábios que Davi (2 Sm 14. 17, 20) e que Daniel (Ez 28. 1-5).
Sem dúvida são “maiores que os homens em força e poder” (2 Pe 2. 11), porém o seu conhecimento tem limites, e não são oniscientes (Mt 24. 36).
Quanto ao seu poder, eles assombram os que os contemplam (Mt 28. 4). A pedra removida pesava em torno de 4 toneladas. Tinha que ser forte, ser sobre humano. Lembremo-nos do feito em que apenas um anjo foi o suficiente para matar 185 mil assírios (2 Rs 19. 35).

D – São seres gloriosos.
Há diversos textos que associam a manifestação da glória dos anjos à glória do próprio Deus, e entre elas podemos citar:
Chamado de Isaías. (Is 6. 1-40
Na visão de Ezequiel. Ez 1
Na visão de João no Apocalipse. Ap 5. 11, 12


E – Termos para anjos na Bíblia.
“O termo ‘anjo’ na Bíblia pode ser tradução de malakh, do hebraico, ou de angelos, do grego. O significado é mensageiro.” (ESEQUIAS, p. 38). Esses termos podem ser atribuídos tanto a homens como a espíritos, e assim sendo somente pelo contexto é que podemos afirmar se o mensageiro é um ser angelical ou um ser humano.

II – OS SERES CELESTIAIS PARA SERVIR
Quanto a natureza dos anjos já abordamos um pouco no tópico anterior. Portanto nesse tópico vamos nos ater nas funções dos anjos em servir a Deus e a igreja, bem como o papel que cumpriram na história bíblica. Vejamos:
  • Estão na presença de Deus e o adoram. Sl 29. 1,2; 89. 7; Mt 18. 10
  • Regozijam-se nas obras de Deus. Jó 38.7; Lc 15.10
  • Executam a vontade de Deus. Sl 103.20; 104.4
  • Assiste o crente individualmente. 1 Rs 19.5; Sl 91. 12, 13; Dn 6.22; Mt 4.11; Lc 16.22; Hb 1. 14
  • Puni os inimigos de Deus. 2 Rs 19. 35
  • Profetizaram e anunciaram o nascimento de Jesus. Mt. 1. 20-24; Lc 1. 26-28
  • Protegeram Jesus na infância. Mt 2. 13-23
  • Acompanharão Jesus em sua segunda vinda visível. Mt 24. 31; 25.31; Mc 8.38; 13.27; Lc 9.26; 2 Ts 1.7
  • Serviu Jesus após a tentação no deserto (Mt 4.11), e durante a Sua luta no Getsêmane (Lc 22.43)
  • A ressurreição e ascensão de Jesus foram acompanhados por serem angelicais. Mt 28. 2,5; Lc 24.23; Jo 20.12
  • Apesar das ajudas mencionadas, Jesus negou o auxílio de anjos, como durante a tentação, que não fez uso indevido do poder dos anjos (Mt 4.6), e na sua paixão e morte (Mt 26.53)
  • Auxiliou os crentes pós ascensão de Jesus, principalmente quando o assunto era a proclamação do Evangelho. At 5. 19,20; 12. 7-17; 27. 23,24;
  • Alegram-se com a conversão do ímpio. Lc 15.10
  • Mediarão o juízo de Deus contra os ímpios que rejeitarem a Cristo. Mt 13. 39-43; Ap 8. 6-13
III – AS HOSTES ANGELICAIS

Nesse tópico veremos de forma resumida as categorias de anjos, como se segue:

A - “Principados e potestades” (Cl 1.16).
A palavra “principado” vem do termo grego arché, que significa “primeiro”, tendo o sentido de “governo, magistratura”. O Apóstolo Paulo empregou a palavra para indicar elevados poderes demoníacos (Rm 8.38; 1 Co 15.24; Ef 1.21; 3.10; 6.12; Cl 1.16; 2.10,15; Tt 3.1. Quando usada, esta palavra parece indicar uma elevada ordem de seres angelicais, sejam maus ou bons, mas não há qualquer certeza quanto a isso.
Já a palavra potestade, de acordo com nossos dicionários da língua portuguesa, é “aquele que exerce autoridade; qualidade de que manda; de quem exerce domínio sobre algo”.

B – Querubim.
Do hebraico qeruvim, que significa bendizer, louvar, adorar. Eles estão sempre associados com a santidade de Deus e a adoração que a sua presença imediata inspira. (Ex 25.20,22; 26.31; Nm 7.89; 2 Rs 19.15; Ez 1. 5-26; 9.3; 10.1-22). “ (HORTON, p. 199)
A proteçãoda santidade de Deus é uma das funções deles. Foram eles que impediram de Adão e Eva reentrarem no Jardim (Gn 3.24). Representações de querubins estavam na tampa (propiciatório) da Arca da Aliança.

C – Serafins.
Do hebraico saraph, que significa arder. Estão na visão de Isaías 6. 1-3, irradiando a glória e a pureza de Deus. Nesta visão do profeta eles declaram incansavelmente a glória de Deus e a Sua santidade. Os serafins guardam o trono de Deus (Is 6. 6,7). Assim como os querubins, os serafins estão intimamente ligados ao serviço de adoração a Deus.

D – Arcanjos.
“Os arcanjos são os maiorais dos anjos, como o prefixo “arc” sugere.” (CPAD, p. 88).
O termo sugere alguém que exerce o papel de “maioral, de governo, de príncipe, de primeiro ministro” em governos terremos. Miguel é apontado como um deles (Dn 10.13). O nome Miguel aparece cinco vezes na Bíblia, como “príncipes” (Dn 10.13,21; 12.1), como arcanjo (Jd 9) e como combatente contra Satanás e seus anjos (Ap 12.7). Ele é mencionado como aquele que se levanta, provavelmente em defesa do povo de Israel. Há alguns escritos apócrifos e pseudoepígrafos que citam Gabriel como outro arcanjo.

IV – JESUS E O ARCANJO MIGUEL

A afirmação de que Miguel é o próprio Jesus Cristo vem de dois grupos de religiosos: Adventistas do Sétimo Dia e Testemunhas de Jeová.
Eles sustentam essa afirmação, ou tentam sustentar, no seguinte versículo: “Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus” (1 Ts 4.16). Pois bem, as TJ argumentam que “caso a designação ‘arcanjo’ se aplicasse não a Jesus Cristo, mas a outros anjos, então a referência à voz de arcanjo não seria apropriada. Nesse caso estaria descrevendo uma voz de menor autoridade do que a do Filho de Deus.” Não há como sustentar essa afirmação, visto que “palavra de ordem” e “voz de arcanjo” são coisas distintas, pois a “palavra de ordem” vem de Cristo, como um brado de guerra. A presença do arcanjo representa os exércitos celestiais.
Já os Adventistas argumentam que “a voz do arcanjo está associada à ressurreição dos santos, na segunda vinda de Jesus.” Cristo declarou que os mortos se levantarão de seus túmulos quando ouvirem a voz do Filho do Homem (Jo 5.28).
Podemos citar outras questões como: Jesus é criador; Miguel é criatura. Jesus é adorado; Miguel não pode ser adorado (Hb 1.6; Ap 19.10; 22.8,9). Jesus é Senhor dos Senhores; Miguel é príncipe (Ap 17.14; Dn 10.13,21).

Conclusão: anjos são seres espirituais criados; não podem ser adorados; estão a serviço de Deus, da igreja, e dos servos de Deus. Não podem ser invocados; não recebem ordem dos homens, mas de Deus.


Boa aula!

Pr. Samuel Eudóxio
(32)98801-1324






BIBLIOGRAFIA

1 – Lições Bíblicas CPAD; 1º Trimestre de 2019
2 – SOARES, Esequias. BATALHA ESPIRITUAL. 1ª edição. RJ. CPAD. 2018.
3 – CHAMPLIN, R. N. ENCICLOPÉDIA DE BÍBLIA, TEOLOGIA E FILOSOFIA. 13ª edição. SP. Hagnos. 2015
4 – Elementos da Teologia Bíblica. Básico de Teologia da EETAD; 2018
5 – Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD, 2017
6 – HORTON, S.M. TEOLOGIA SISTEMÁTICA: UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL. 15ª Impressão. RJ. CPAD. 2013
7 – STRONG, A.H. TEOLOGIA SISTEMÁTICA. 3ª edição. SP. Hagnos. 2008
8 – TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Curitiba. InterSaberes. 2014
9 – Bíblia King James
10 – Bíblia de Estudo Pentecostal


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

LIÇÃO 01: BATALHA ESPIRITUAL – A REALIDADE NÃO PODE SER SUBESTIMADA


Lições Bíblicas CPAD, 1º trimestre de 2019
Lição 01, 06 de janeiro de 2019
Texto áureo: Mt 26. 41 - Leitura bíblica em classe: 1 Pe 5. 5-9

Visão Geral do Trimestre: O objetivo do estudo de nosso trimestre não deve ser uma supervalorização de Satanás e dos demônios, mas um esclarecimento e uma conscientização de que o mundo espiritual existe, e de que há uma atuação do diabo e seus demônios a todo vapor entre a humanidade ou porque não falar na vida de muitos homens. O objetivo desse trimestre é desmistificar a questão de batalha espiritual da forma que ela é vista pelas igrejas neopentecostais, e ensinar a igreja como batalhar contra Satanás com as armas que o Senhor nos disponibilizou: a Palavra de Deus, vigilância, oração, jejum, o Nome de Jesus, uma vida de santificação, enfim, vamos aprender que nesta luta temos todas as condições de sairmos vitoriosos, desde que usemos as armas certas e as estratégias já estabelecidas por Deus.

Introdução: Precisamos entender que a batalha espiritual existe. Ela é bíblica, não no sentido que está sendo ensinada pelas igrejas neopentecostais, onde o que predomina-se é o ensinamento da “maldição hereditária, mapeamento espiritual, crentes endemoniados”, etc. A bíblia tem as respostas e a doutrina que nos ensinará sobre o assunto.

I – A BATALHA ESPIRITUAL

1 – O conceito de batalha espiritual.
A atuação de demônios no mundo e nas pessoas é relatado pela Bíblia. “O mundo jaz no maligno” (1 jo 5. 19). Satanás tem sido rebelde e pecado desde o início (1 Jo 3. 8). O diabo, desde o início da humanidade tem feito de tudo para afastar a humanidade de Deus, dos planos de Deus para o homem, e sobretudo da salvação eterna. O nosso adversário só pode ser vencido pelo poder da Palavra de Deus, da oração, do Nome de Jesus. Essas são as armas que temos disponíveis para enfrentar as hostes de Satanás. A igreja recebeu autoridade de Jesus para expulsar demônios, pisar serpentes e escorpiões, “e sobre todo o poder do inimigo” (Lc 10. 19; Mc 16. 17, 18). Esse contexto de oposição a todas as obras do adversário é que chamamos de “batalha espiritual”.

2 – Uma realidade bíblica.

Estamos em uma batalha e o nosso adversário tem nome: Satanás e seus exércitos de demônios. Encontramos na Bíblia diversos textos que mostram a sua atuação contra os servos de Deus. Vejamos alguns exemplos:
A – Guerra contra Ramote-Gileade. 1 Rs 22. 10 – 28; 2 Cr 18. 5 – 27
B – A prova de Jó. Capítulos 1, 2 e 3 do Livro de jó
C – Tentação de Jesus. Mt 4. 1 – 11; Mc 1. 12, 13; Lc 4. 1 – 13
D – Pedro enfrentando Simão. At 8. 9 – 24
E – Paulo. At 13. 8 – 11; 16. 16-22; 19. 11-19
F – Luta espiritual. Ef 2.2; 6. 10-12

3 – O que não é batalha espiritual.

A atual ênfase em “batalha espiritual” como ensinado nas igrejas neopentecostais têm a sua origem no pastor norte-americano Peter Wagner (1930 - 2016). O pastor Peter foi representante do Movimento de Crescimento da Igreja, fundado por Donald MacGravan em 1955. Em 1980 ele começou a interessar-se pelas dimensões espirituais na vidas eclesiásticas. Em 89 chega a conclusão que o evangelismo tem um melhor resultado quando se ora, e que Deus tem levantado indivíduos com um poder e chamado especial para a intercessão.
Com este pensamento, Peter Wagner reuniu em um hotel um grupo de pessoas para orarem por um congresso que seria realizado em frente ao estabelecimento onde estavam, em Lausanne. Durante a intercessão um dos membros da equipe, a senhora Juana Francisco, começou a ter uma crise asmática, sendo socorrida ao hospital local. Enquanto era atendida, outras duas intercessoras, Mary Lance e Cidy Jacobs receberam uma mensagem de Deus que o mal que acometera Juana era “obra de macumba”. Imediatamente todos oraram e a mulher ficou curada.
Peter interpretou o acontecido como uma lição de Deus. A partir de então ele adotou os seguintes princípios: “a evangelização do mundo é uma questão de vida ou morte, a chave para a evangelização consiste em ouvirmos a Deus e obedecermos o que tivermos ouvido, visto que eles sabiam que Deus queria que a maldição fosse anulada, por isso entraram em ação, e por último, que Deus usará a totalidade de seu corpo para a obra de evangelização do mundo”.
Naquele congresso foram abordados os assuntos de “espíritos territoriais e intercessão espiritual em nível estratégico”. Estava dado o pontapé inicial. Não muito depois eles organizaram um grupo denominado “Rede de Guerra Espiritual”, onde passaram a discutir e difundir a ideia de “batalha espiritual”.
A ideia que se tem hoje quando se fala em “batalha espiritual” é o que foi difundido por Peter Wagner, seu grupo de amigos e pregadores abraçaram essa falsa teologia, tudo tendo início dentro do que dito acima, e que será detalhado nos próximos pontos.

II – PRINCIPAIS CRENÇAS DA PSEUDO BATALHA ESPIRITUAL

1 – Mapeamento espiritual.

Resumidamente esta doutrina consiste em que Satanás teria designado um demônio específico para atuar em determinada região, e ter autoridade nesta região, cidade, estado, país ou continente, e que o Evangelho só pode ser pregado depois que esse espírito maligno for expulso por um homem cheio do Espírito Santo. Em decorrência disso surgiu a necessidade de uma geografia espiritual, surgindo então o mapeamento espiritual, ou a doutrina de “espíritos territoriais”.

2 – A maldição hereditária.

Essa doutrina ensina que se uma pessoa tem problemas com drogas, homossexualidade, alcoolismo, doenças, pornografia, pensamentos suicidas, entre outros problemas, isto tudo é fruto de gerações passadas, e que cabe a essa pessoa ou ao seu “guru espiritual”, ou aquele que faz a sua “cobertura espiritual”, descobrir em qual geração abo teve acesso aquela linhagem familiar, e a partir daí pedir perdão por essa geração para que a maldição seja quebrada. Os textos utilizados são Ex 20. 5; Dt 5.9; Is 8. 19.

3 - “Crentes endemoninhados”.

Aqui, para defender a sua doutrina os adeptos da “batalha espiritual” mudam a própria composição do homem. Ensinam que “o homem é um espírito que tem alma e habita num corpo” (Kenneth Hagin). É até confuso, não é? Mas quem quer torcer as verdades do Evangelho para defender as suas heresias são capazes de tudo. Diante dessa afirmação eles argumentam que “o Espírito Santo habita no espírito, e os demônios podem habitar na carne”.
Outro argumento que os adeptos desta doutrina se valem para defender que “crentes podem ficar endemoninhados” é o fato de que em algumas traduções da bíblia traduziram “endemoninhado” por “possuído”. Um exemplo, segundo Ezequias Soares em “Batalha Espiritual” (CPAD, p. 23) é a versão da Bíblia King James. Ainda segundo Ezequias Soares o grego usa a palavra “daimonizomenos”, significando “endemoninhado”, ou “echon daimonia”, significando “ter demônios ou estar com demônios”.
Dentro ainda desse assunto há a argumentação de que Saul fora “possuído” por um “espírito mau da parte de Deus” (1 Sm 18. 10; 19 .9). Esquecem-se de mencionar que Saul neste contexto já havia sido rejeitado pelo Senhor. A Bíblia cita que “o Espírito do Senhor se retirou de Saul” (1 Sm 16. 14). Saul já era um desviado.
Outro texto citado é Lucas 22. 3 onde diz que “Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes”. Porém o próprio Jesus já havia dito que Judas era “um diabo” (Jo 6. 70)
Enfim, “aquele que está em Cristo é uma nova criatura” (2 Co 5. 17); nasceu de novo (Jo 3); é templo do Espírito Santo (1 Co 6. 19); o maligno não toca naquele que é gerado de Deus (1 Jo 5. 18).

III – VAMOS À BÍBLIA

1 – Sobre o mapeamento espiritual.

Para que esta ideia seja sustentada alguns versículos da Palavra de Deus são utilizados, muitas das vezes fora de seu contexto ou com erros de interpretação, para que sejam adequados aos interesses de Peter Wagner. Entre os textos bíblicos podemos citar:
A – 2 Co 4. 4: “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos”. Nste texto Peter Wagner interpreta “incrédulos” como “territórios”, “incluindo nações, estados, cidades, grupos culturais, tribos, estruturas sociais, e sobre essa falsa premissa, constrói o seu pensamento doutrinário”. (Soares, p. 22). Nesse sentido, não somente as pessoas, mas toda a estrutura política, eclesiástica, social, entre outras organizações, sofrem a intervenção e controle de “espíritos territoriais”
B – Dn 10. 13, 20: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias: porém Miguel, um dos príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia.”[…] “e ele disse: Sabes porque eu vim a ti? Eu tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia”. O texto em lide deixa bem claro a atuação de seres angelicais em determinadas nações. Entre comentaristas que apoiam essa afirmação cito aqui o Dr. Russell Shedd em seu comentário na Bíblia Shedd: “O príncipe do reino da Pérsia. O poder espiritual satânico manifesto através do culto pagão dos persas”. Observamos no texto uma batalha entre seres angelicais, espirituais, e não entre anjos e homens. Daniel aqui almejava era receber a mensagem de Deus.
C - Mt 4:8,9: “Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”. No texto parece-nos que Satanás diz ter autoridade sobre nações e reinos, porém não nos dá base para afirmar que ele tenha estabelecido um demônio específico para atuar em cada região.
D - Mc 5:10: “E rogou-lhes encarecidamente que os não mandasse para fora do país”. Nesse texto o que Peter Wagner usa para defender a sua doutrina é o fato de que os demônios pediram a Jesus para “que os não enviasse para fora daquela província”. O pedido se dá não porque eles tinham autoridade sobre aquela província ou região, mas sim, conforme lemos o mesmo acontecimento em Lucas 8. 31 porque eles seriam lançados no abismo.
Estudando os textos propostos observamos que o Satanás e seus demônios são organizados, possuindo hierarquia sobre os seus subordinados, e atua nas regiões celestiais influenciando as nações. Analisando principalmente Dn 10. 13, 20 podemos concluir que fica expressa a ideia de um espírito maligno influenciando uma nação. Porém, uma doutrina inteira não pode ser baseada neste texto. Não encontramos na Bíblia outros textos que nos afirmam essa verdade de forma específica ou que simplesmente deixam margem para uma interpretação que apoie a doutrina de “batalha espiritual” nos moldes que eles ensinam sobre “espíritos territoriais”. Sendo assim, onde a Bíblia se cala, nos calamos juntos, e qualquer afirmação ou informação adicional são meras especulações.

2 – Sobre a maldição hereditária

Como vimos acima, a “maldição hereditária” quer explicar erroneamente que os problemas que um indivíduo ou uma família passa, tais como doenças, vícios em drogas e álcool, prostituição, divórcios ou tendências suicidas são consequências de uma escolha passada, de gerações passadas que deram entrada ao diabo para que ele atuasse nesta geração e nas futuras. A única forma de solucionar o problema é descobrindo qual geração cometeu o pecado e pedir perdão por ela.
Essas afirmações baseiam-se em textos como Êxodo 20. 3 – 5, alegando que a “Palavra declara que uma maldição pode ser transmitida de geração a geração”. No entanto, o objetivo do texto é contrastar o castigo para a “terceira e quarta geração” com o propósito de Deus de abençoar a milhares de geração. Deus alertava o povo de Israel de que as maldições alcançariam os descendentes que continuassem envolvidos na idolatria e pecado, ou seja, o pecado seria individual de cada geração e indivíduo. Não há que se falar em uma geração pagando pelo pecado ou desobediência de outra.
Quando olhamos para a história de Israel vemos gerações após gerações se corrompendo, afastando-se de Deus. No entanto, os cativeiros vieram porque aquela geração que foi levada para eles não se converteram, mas continuaram nos caminhos de seus pais.
Outra falácia para sustentar os argumentos da “maldição hereditária” é o conceito que fazem de “espíritos familiares”, cujo conceito é que “há uma nova vida, uma nova natureza em você. Mas seus filhos podem herdar seu ponto fraco. Sua geração foi purificada, mas eles têm de purificar-se também! A maldição precisa ser quebrada neles, ou eles herdarão sua fraqueza, que veio de seu pai e, antes dele, de seu avô e seu bisavô” (Soares, 2018, p. 19). O texto onde baseiam essa doutrina é Lv 19. 31; 20.6 onde “adivinhadores” é substituído por “espíritos familiares” na versão da Bíblia King James. “Essa tradução é pouco usada e de origem desconhecida. Muitos dicionários e léxicos não usam a expressão, e pouquíssimos fazem menção dela com ressalva...” (Soares, 2018, p. 21).
Para os pregadores da doutrina os espíritos que atuaram em alguém no passado levando-o a determinada prática pecaminosa ou atuando na destruição d família de alguma forma, como acidentes automobilísticos, corrupção, religiosidade e idolatria, comportamento social, vícios, homicídios, violência em todos os sentidos, feitiçarias, enfim, toda “má sorte” é atuação desse “espírito familiar” que precisa ser identificado e expulso por meio da intercessão e quebra de maldição.
O que nós cristãos precisamos nos conscientizar é de que aquele que está em Cristo é uma nova criatura, “as coisas velhas já passaram, e eis que tudo se fez novo” (2 Co 5. 17). Éramos inimigos de Deus, mas fomos reconciliados com Ele através de Cristo (Rm 5. 8-10). “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos, pelos pais; cada qual morrerá pelo seu pecado” (Dt 24. 16). Aquele que etá liberto por Cristo o mal não tem autoridade ou acesso para amaldiçoá-lo. Sobre ele está a proteção do Sangue de Jesus. Lembra dos umbrais das portas sinalizadas pelo sangue no Egito?

3 – Sobre a possibilidade de o cristão ser possesso.

Complementando o que já falamos acima, deixamos claro que um crente não pode ser possuído por um demônio. Não um crente verdadeiro, que vive em santificação, lavado pelo Sangue de Jesus.
Os textos já citados acima nos demonstram isso, e dentre eles quero discorrer novamente sobre dois, tirando algumas dúvidas ou pelo amenizando o que pode trazer dificuldades na hora de lecionar a lição. Os textos são 1 Sm 16. 14 e Atos 5. 1 – 11.
Em 1 Sm 16. 14 temos o seguinte texto: “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da parte do Senhor.” (ARC). Pois bem. O que temos visto e aprendido até aqui é que após o Espírito Santo se retirar de Saul, Deus permitiu que um “espírito maligno ou demônio” o atormentasse, de forma que quando Davi tocava a sua harpa “o espírito mau se retirava dele” (1 Sm 16. 23). No entanto, neste tópico da lição encontramos a seguinte afirmação: “além disso a Bíblia não fala de demônio, mas ‘que o assombrava um espírito mau da parte do Senhor’ (1 Sm 16. 14)”. no livro de apoio da CPAD, na página 25, o autor e comentarista da lição deixa claro a sua opinião: “Trata-se de um espírito da parte de Deus, e não de Satanás” (Soares, 2018, p. 25). Eu não tenho dúvida que o autor do livro e comentarista da lição deva ter os seus argumentos teológicos e Bíblicos para as afirmações, tanto no livro, quanto na revista, mas em ambos os casos eles não foram apresentados para elucidar as dúvidas que, com certeza, surgirão na mente de nossos alunos, uma vez que estão a vida toda ouvindo e lendo que o “espírito mau” é um “espírito maligno” que Deus permitiu agir na vida de Saul, o que a própria Bíblia de Estudo Pentecostal afirma na página 455 comentando o versículo em lide. Portanto, faltou explicação para algo considerado “novo”. O professor terá dificuldades para explicar para a classe a posição do comentarista, e o mais importante no tópico não é provar se o que atormentava Saul era maligno ou não, mas sim mostrar que o rei já não tinha a presença de Deus quando fora atormentado, e que ele estava desviado de Deus, e que um crente não pode ficar possesso por demônios. Outrossim, Pearlman cita que o que aconteceu foi que Saul foi tomado por um sentimento de desgosto, depressão e tristeza, vindo de Deus, como resultado ou consequência de ter se afastado do Senhor, e pelas suas decisões frustradas. (PEARLMAN, 1983, p. 54) Essa parece ser a posição do comentarista da lição, mesmo sem ter explicado.
Quanto a Atos 5. 1 – 11 podemos dizer que Ananias e Safira não ficaram possessos, mas por não discernirem a pessoa e a atuação do Espírito Santo na meio da igreja eles mentiram ao Espírito. Eles um momento de falta de vigilância eles foram influenciados por Satanás a pecar e a mentir contra Deus. Todo crente deve ter esse cuidado, para manter-se fiel a Deus, sensível a Sua Presença e pronto para discernir quando atitudes ou ações, quer sejam carnais ou espirituais, não condizem com a forma de viver cristão e podem se tornar tropeços na sua caminhada cristã.

4 – O homem segundo a Bíblia.

Neste tópico enfatiza-se a composição do homem. Ele não é um espírito, mas foi formado do pó da terra, sendo que Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida, “e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7). Somente esse texto lança por terra facilmente a argumentação dos adeptos da “batalha espiritual” de que o Espírito Santo habita o “espírito”, mas a carne pode ser habitada por demônios. Quando Deus olha para o homem o vê em sua totalidade: espírito, alma e corpo, e esses três elementos devem ser “conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” através da santificação. (1 Ts 5. 23).

Conclusão: Concluímos que a batalha espiritual é uma realidade bíblica, mas que deve ser considerado a luz da própria Bíblia, e não pelos exageros pregados pelas igrejas neopentecostais e adeptos desta doutrina, até mesmo entre nós. O cristão precisa ter maturidade para discernir entre o que é espiritual e o que é fanatismo. Além disso, ter uma vida de santificação, que é para Deus, para ter comunhão com o Seu Senhor, para agradar Aquele que o salvou, e não somente para se ver livre do diabo. Se viver assim, de forma equilibrada, pautado na Palavra e tendo uma vida de oração e comunhão com Deus, vencerá todas as batalhas espirituais.
Boa aula!

Pr. Samuel Eudóxio
(32)98801-1324

BIBLIOGRAFIA

1 – Lições Bíblicas CPAD; 1º Trimestre de 2019
2 – SOARES, Esequias. BATALHA ESPIRITUAL. 1ª edição. RJ. CPAD. 2018.
3 – CHAMPLIN, R. N. ENCICLOPÉDIA DE BÍBLIA, TEOLOGIA E FILOSOFIA. 13ª edição. SP. Hagnos. 2015
4 – PEARLMAN, Myer. ATRAVÉS DA BÍBLIA, LIVRO POR LIVRO. 6ª edição. BH. Editora Vida. 1983.
5 – WIERSBE, W. W. COMENTÁRIO BÍBLICO EXPOSITIVO. 1ª edição. SP. Geográfica Editora. 2015
6 – Bíblia Thompson
7 – Bíblia King James
8 – Bíblia de Estudo Pentecostal
9 – Bíblia Sagrada, versão ARA
10 – http://www.cacp.org.br/batalha-espiritual/. Acesso em 02 e 03 de janeiro de 2019.