O grande desafio para jovens obreiros
vocacionados ao ministério é se devem ou não “viverem da obra”. Constantemente encontros
obreiros que se dividem entre as tarefas cotidianas, emprego secular e a obra
ministerial, os chamados “obreiros de tempo parcial”. Estes, em seus tempos de
folga dedicam-se a obra do Senhor, e não são poucos os que fazem uma grande
obra, mesmo em tempo parcial. Por outro lado, há os “obreiros de tempo integral”,
os que vivem do salário e sustento da igreja. É uma vida de desafios, fé,
trabalho e confiança no Senhor.
O princípio do ministro assalariado
está nitidamente esboçado por Paulo, em 1 Coríntios 9. A passagem Bíblica deixa
claro que o ministro tem o direito de ser sustentado, para que possa devotar
todo o tempo necessário ao ministério. É importante ressaltar que o ministro
recebe o salário não porque é “ministro”, mas porque presta um serviço á Igreja
do Senhor. Não são raros os pastores e missionários que abriram mão de bons
salários e vida profissional para se dedicar unicamente a obra ministerial. Como
não serem, portanto, assalariados pela igreja? Jesus ao enviar os setenta
ensinou que “digno é o obreiro de seu salário” (Lc 10.7), e a igreja deve fazer
o seu papel de manter os seus pastores em condições dignas de prestar-lhes o
serviço sacerdotal. Mas, até onde o “ministério de tempo integral” é uma garantia
para o pastor e sua família?
Que ministério não é cabide de emprego
todos sabem, mas com toda certeza o serviço eclesiástico deve cercar o ministro
de garantias para a sua vida futura. Conheço um bom número de pastores que
estão a 30 (trinta), 40 (quarenta) anos no ministério. Abriram mão de tudo para
cumprirem o seu chamado, sua vocação. Seria justo, no final da vida, esses
obreiros serem desamparados ou esquecidos pela igreja a qual dedicaram toda a
sua vida? Claro que não. Alguém pode questionar o porquê de muitos destes
obreiros não construírem, eles próprios, uma garantia para o futuro. A resposta
é simples. A maioria de nossos ministros vive com salários modestos, com o
suficiente para a subsistência de sua família, diga-se entre R$700,00 e
R$1.200,00. Agora, me diga, como um obreiro que ganha esse salário, criando
filhos, será capaz de construir uma garantia para o futuro? Dificilmente. Não
se engane, a vida da maioria dos ministros de tempo integral é modesta e
cercada de necessidades, que são supridas dia a dia pelo Senhor. Não tenhamos
em mente apenas o ministério próspero de poucos pregadores e tele-evangelistas.
Na verdade, a vida do ministro de tempo integral atual está cercada de grande
instabilidade, e porque não falar em incertezas. Por parte de Deus? Não, dos
homens.
Hoje, meia dúzia de palavras é o
suficiente para que um pastor seja retirado de sua função. Se o ministro não
estiver pastoreando de acordo com o desejo do povo, este se levanta e pede a
sua retirada da igreja local. Não precisa muito. Está comum grupos se
levantarem nas igrejas para assumirem a liderança, e levarem as suas causas até
mesmo na justiça, desapossando pastores e líderes de suas posições. Obreiros que
não querem mais “deitar água” nas mãos de seus pastores (2 Rs 3.11), pelo
contrário, juntam-se a congregação de Corá (Nm 16.1-3) e levantam-se contra a
sua liderança. Infelizmente, muitas dessas vozes têm força em nossos dias, quer
por causa das influências ou favores devidos, e a voz do líder é calada, e seu
ministério desconsiderado. Com isto, pouco importa “os seus anos de casa”,
serviços prestados ao Reino, sofrimentos por amor a causa de Cristo, a história
passada, igrejas implantadas, projetos de sucesso, nada disto importa. Prevalecerá
a voz da incompreensão e da ingratidão. O ministério de tempo integral é um
desafio para poucos, pois que nem todos estão preparados para “tomarem o cálice”
que estes homens de Deus têm tomado.
Pastores integrais, que o Senhor seja
contigo nos dias maus que vivemos. Que a provisão de Deus esteja sobre a sua
casa e sua família. Que a sua geração seja abençoada e protegida pelo Senhor.
Não desanime em meio às crises. Não desfaleça diante das adversidades. Siga em
frente, crendo que em meio a tantas instabilidades, o que vos chamou permanece
Fiel (1 Ts 5.24) e completará em vós toda a boa obra (Fp 1.1-6). Permaneça fiel,
esperando firmemente aquele dia em que
ouvirá do Senhor da Seara: “Bem está,
servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no
gozo do teu senhor.” (Mt 25.21)
Em Cristo,
Samuel Eudóxio