1 João 1
Tácito da G. L. Filho em
seu livro “O homem em três tempos” cita o teólogo Emery. H. Bancroft:
“Um acontecimento é uma
coisa tão óbvia, como o sol quando brilha como o carvão e sua negrura, como a
neve e sua brancura, como o fogo e seu calor, como a calhandra e seu vôo, como
o mar e seu movimento, e como a violeta
e seu perfume. O pecado é uma coisa que existe, na realidade, seja
latente nos vulcões adormecidos da natureza humana, seja patente na devastadora
paixão ardente do homem.”
Alguns termos para pecado no Antigo Testamento:
A – “Chata” – É a palavra mais característica e significa errar o alvo. É a
palavra hebraica que designa o pecado em geral; o pecador erra o alvo,
desvia-se do caminho que Deus coloca diante dele. O homem se inclina a errar o
alvo, ele deseja; há uma disposição nele p´roprio que o leva a errar o alvo.
Este termo é usado para demonstrar tanto a disposição para pecar como o ato
resultante. Gn 4.7; Lv 4.22,24; 16.21; Sl 1.1; 51.4; 103.10; Is1.18; 38.17; Dn
9.16; Os 12.8
B – “Pasha” – transgredir, invadir, ir além, rebelar-se. O homem forçou e
foi além dos limites estabelecidos pela justa lei de Deus. Gn 31.36; 50.17; Ex
22.8; 1 Sm 24.12
C – “Rasha” – significa ser ímpio, ser solto ou mal ligado; ser ruidoso ou
tumultuoso. A pessoa desconjuntada é anormal, cambaleia, balanceando a cabeça;
no sentido espiritual o pecador também é assim: ele cambaleia, treme e se
arrasta. Is 57.20,21; Sl 18.21; Ml 3.15,18
D – “Ma’al” – significa transgredir; ser culpado de quebrar uma promessa ou
não cumprir a palavra; envolve infidelidade e traição. Ás vezes significa que o
homem planeja a traição, ou a quebra de sua palavra contra Deus e sua elevada
vocação. Lv 16.16,21; 26.40; Nm 5.6; 31.16; Dt 32.51; 2 Cr 26.18; 29.6
Outros termos: “Ra’a”
(ser mau, quebrar ou danificar por métodos ou meios violentos – Gn 2.9; Ex
33.4; Pv 1.16); “Avah” (perverso; entortar ou torcer a lei de Deus – Gn 15.16;
Ex 20.5; Lv 26.40; 1 Sm 3.14; Jó 20.27; Jr 2.22); “Ramah” (enganar; derribar;
prender na armadilha – Sl 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7; Mq 6.12); “Pathah”
(seduzir; ser aberto – Dt 11.16; Jó 31.27; Sl 76.36; Pv 1.10; 16.29)
A – “Adikia” – significa injustiça, maldade, incorreção, praticar más obras.
2 Co 12.13; Hb 8.12; Rm 1.18; 9.14; 1 Jo 5.17
B – “Hamartía” – palavra mais usada no NT; é a que melhor se traduz por
pecado; significa transgredir, praticar más obras, pecar contra Deus. Hb 1.3;
Mc 2.5; Jo 9.41; Rm 5.12; Hb 3.13
C – “Anomía” – ilegalidade, insubordinação, desenfreiamento. Rm 6.19;
D - “Apistía” – infidelidade, falta de fé ou resistência á fé com obstinação.
Rm 3.3; Hb 3.12; 1 Tm 1.
13.
E – “Asebia” – impiedade ou falta de reverência. 2 Tm 2.16
F – “Aselgeia” – licenciosidade, relaxamento, sensualidade. Jd 4
G – “Epithumía” – desejo (somente o contexto pode indicar se o desejo é bom ou
mau). Aparece em Lc 22.15 e Tg 1.14, indicando que o desejo em si não é mau; o
é somente quando envolvido pelo egocentrismo, por uma relação inadequada com
Deus, outras pessoas ou outros interesses.
H – “Ejthra” – sentimentos ou ações hostis, ou seja, inimizade. Tg 4.4; Ef 2.14-16;; Rm 8.7
I – “Kakía” – perversidade ou depravação oposta á virtude; descreve o
caráter e a disposição e não somente o ato exterior do pecar. 1 Pe 2.16; Mt
6.34
J – “Parábasis” – termo usado somente umas oito vezes no NT; significa
transgressão, passar os limites, violar a lei, consciente ou voluntariamente.
Rm 4.15; 5.14; Hb 2.2; 1 Tm 2.14
L – “Poneria” – perversidade, baixeza, malícia, é semelhante a “kakía”, e
aparecem juntas em 1 Co 5.8
Em suma, pecado é errar
o alvo proposto por Deus, perder o foco de nossa santidade. É desviar dos retos
caminhos do Senhor. É aborrecer a Deus. O pecado afasta o homem de Deus; faz
divisão entre a criatura e o criador, de maneira que torna-se um bloqueio
impeditivo para a resposta de Deus até mesmo ás nossas orações (Is 59.1-3).
Pecar é manchar a alma, como uma nódea. Pecar é praticar atos contrários á fé
cristã. É dizer que está com Cristo e não andar com Ele. É andar segundo a
carne e seus desejos e não segundo o Espírito (Gl 5.16,17). Pecar é morrer
espiritualmente (Rm 6.23).
A – Deus é luz, e nos
chama das trevas para luz. 1 Jo 1.5,6; 1 Pe 2.9
B – Quem diz que tem
comunhão com Deus deve abandonar as obras das trevas, o pecado. 1 Jo 1.6
C – O “andar” na luz é
um estilo de vida com santidade; sempre; constante. 1 Jo 1.7; 2 Jo 6; Sl 1.1;
Jó 1.8
D – A vida de santidade
leva-nos a ter comunhão com os irmãos; quem vive em pecado evita a comunhão com
os santos. 1 Jo 1.7
E – O pecado leva a
ausência da comunhão com Deus. Há uma condição para se ter comunhão com Deus:
“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está...”. Precisamos andar na direção
do Senhor, conforme Sua Palavra. Não tem como andarmos nas trevas, enquanto
Deus é luz, e dizermos que temos comunhão com Ele. O homem entregue ao pecado
está alienado da vida de Deus (Ef 4.18); alienado da comunidade do povo da
aliança (Ef 2.12; 1 Jo 1.7); alienado das exigências de sua própria consciência
(Cl 1.21).
F – O sangue de Jesus é
o agente purificador de nossos pecados. “Todos”. 1 Jo 1.7
G – O homem que diz que
não tem pecado, engana-se a si mesmo. Os gnósticos acreditavam que todo pecado
cometido na carne não era considerado ofensa contra Deus. Portanto, praticavam
todo tipo de iniqüidade possível e diziam: “Não temos pecado.” 1 Jo 1.8
Precisamos ter cuidado para não nos iludirmos e negarmos
nossos pecados. Quanto mais os vemos,
mais devemos estimar e valorizar a correção.
H – Devemos confessar
constantemente nossos pecados ao Senhor e crer no seu perdão. 1 Jo 1.9
O cristão deve reconhecer e confessar seus pecados a Deus.
Se não o faz, ele corre o risco de se “acostumar” com a vida pecaminosa e não
dar mais ouvidos ao Espírito Santo que o chama ao arrependimento e concerto.
Não podemos correr o risco como Faraó que escolheu passar mais uma noite com as
rãs (Êx 8.1-15). As rãs estavam em toda parte, nos dormitórios, nas camas, nos
fornos de pães, nas amassadeiras, na casa dos senhores e dos servos. A praga
era geral. Moisés propõe a Faraó que oraria e as rãs iriam embora, e pergunta
quando poderia orar. Faraó responde: “Amanhã.” Existem pessoas que já se
acostumaram com o pecado e o tratam como parte de suas vidas, e estão sempre
adiando o momento de abandoná-lo. Perdão de pecados não é para amanhã, é para
agora. Há perdão agora, “se confessarmos” os nossos pecados, pois Jesus “é fiel
e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. (1 Jo
1.9)
I – A negação de nossos
pecados é anular a cruz e a Palavra de Deus. 1 Jo 1.10
O próprio Deus disse que “a imaginação do coração do homem
é má desde a sua meninice” (Gn 8.21). falar que o homem não tem pecado é negar
a afirmativa do próprio Deus e desprezar o meio que Ele mesmo proveu para
remissão da humanidade, o sacrifício do próprio Filho. Dizer que não tem pecado
é abandonar todos os princípios e efeitos da Palavra de Deus em nós. A Bíblia,
de Genesis a Apocalipse, aponta o homem como pecador e o sacrifício de Jesus
como o único meio de salvação do homem. Negar o pecado é dizer-se
auto-suficiente, independente de Deus e alienado de Sua Palavra.
J – O cristão tem Jesus como seu Advogado e propiciação,
caso incorra em pecado e no erro. 1 Jo 2.1,2
O propósito de João é manter seus leitores afastados do
pecado, mas sabe que em algum momento poderão pecar. Por isso, ele apresenta a
dupla provisão de Deus para restaurar os cristãos pecadores. Primeiro, Ele
nomeou Jesus como nosso Advogado. Segundo, como propiciação pelos nossos
pecados (Rm 3.25). A figura e papel de um advogado é bem conhecida por todos.
Seu papel é defender o réu diante de um juiz, anular a pena proposta por lei. E
a propiciação?
Propiciação vem da palavra grega “hilasterion”, é aquilo que expia ou propicia. Essa palavra tem
referência com o lugar da propiciação, mais conhecido como o propiciatório (Hb
9.5). O propiciatório era a cobertura ou a tampa da Arca do Concerto do povo de
Israel. No dia da Expiação (Lv 16.14), o sumo sacerdote, representando a si
mesmo e o povo, entrava no Santo dos Santos (Lugar Santíssimo), tendo nas mãos
uma bacia contendo o sangue do animal morto para expiação. Depois de chegar ao
Lugar Santíssimo, e depois de todo o propiciatório ter sido coberto pela fumaça
do incenso, o sumo sacerdote molhava o dedo no sangue e aspergia o
propiciatório. Figuradamente, Cristo entrou no lugar Santíssimo como sumo
sacerdote (Hb 7.25-27), e com seu próprio sangue cobriu (expiou) os nossos
pecados da presença de Deus (Hb 9.11,12)
O termo propiciatório é também entendido como o modo de
acalmar, aplacar a ira divina, e isto só o sangue de Jesus foi capaz de
realizar.
Portanto, Jesus é o nosso propiciatório, o lugar onde
nossos pecados são apagados. Essa operação expiatória independe de atos
humanos, visto que nada podemos fazer para escapar á justiça de Deus. É um ato
de justiça que só o Filho de Deus pode fazer (1 Jo 4.10).
Iniciamos descrevendo o pecado do homem e sua
incapacidade de resolver, sozinho, sua situação espiritual diante de Deus.
Terminamos apresentando Cristo, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”
(Jo 1.29). Ele é a nossa Reconciliação com Deus (Ef 2.13-19).
Até aqui vimos que João apresentou Jesus não só como homem,
mas também como verdadeiro Deus, apontou o homem como pecador e lhe apresentou
a solução dos pecados através do Sangue de Jesus. Agora, João chama os seus
leitores para um grande desafio: viver a Palavra, e não apenas professá-la.
Em Cristo,
Samuel Eudóxio