2 Sm 18. 1 – 19.
10
Introdução: Há batalhas que
gostaríamos de nunca ter que passar por elas. Há dias que se
pudéssemos apagaríamos da existência e de nossa memória. Davi
estava preste a passar por ambas as situações.
1 – Preparativos para a batalha.
v. 1, 2
A decisão de lutar não agradava a
Davi, visto que lutaria contra o exército do próprio filho. No
entanto, ele não tinha mais escolhas, pois o exército de Absalão
estava marchando em direção a ele, sua família e o povo que o
seguira. O rei estava se aproximando de um dos piores dias da sua
vida.
1.1. Davi dividiu o povo colocando
sobre eles “capitães de mil e capitães de cem”. Há textos que
cita apenas “de cem”, porém sem dúvidas a multidão que segui a
Davi e capazes de empunhar uma espada passava dos milhares. v. 1, 4
1.2. Ele dividiu o seu exército em
pelo menos 3 batalhões sob o comando de Joabe, Abisai e Itai. v. 2.
Perceba que temos um gentio que acompanhava Davi e que agora está
disposto a lutar pelo rei, colocando
seus homens a disposição para a batalha. A bíblia está repleta de
gentios que abraçaram a causa do Povo de Deus: Raabe, Rute,
Cornélio, entre outros.
1.3. O próprio Davi quer ir na frente
da batalha, mas é impedido pelo povo. v. 2 - 4. Nesse texto
observa-se algo extraordinário: o reconhecimento do povo da
liderança de Davi, bem como a capacidade do rei de mobilizar e
influenciar as pessoas, visto que o povo diz que caso eles morressem
o coração do povo não sofreria com eles, pois Davi poderia ajuntar
“mais dez mil como eles”. Uma lição de humildade, submissão e
valorização do líder.
2 – Para aquela batalha Davi não
motivou seus guerreiros à vitória. v. 5
2.1. Observe as reações de Davi
antes e após as batalhas e perceba o quanto seu coração está
angustiado e desesperançoso nesta ocasião. Ele dá ordens expressas
a seus guerreiros que tratasse a Absalão com brandura (v. 5). Em
outras ocasiões a palavra seria diferente: 1 Sm 17. 26, 32, 32 –
37, 45 – 47; 30. 17 – 21; 2 Sm 8. Observe as palavras de Joabe
antes de uma batalha: 2 Sm 10. 11, 12.
Há algo intrigante nesse texto. Não
podemos excluir os sentimentos do coração de um pai que está
prestes a lutar contra o próprio filho. O coração de Davi estava
dilacerado, porém não poderia se privar da posição de ser o Rei
de Israel. Absalão já havia sido tratado com brandura em outras
ocasiões em que mereceria a morte, mas Davi o poupa. Aqui, ele o
poupa novamente deixando transparecer o quanto ele tem dificuldades
em lidar com problemas familiares, o quanto as suas questões
familiares estavam
mal resolvidas. Quem sabe Davi não guardava em seu coração um
arrependimento por não visitar e acertar com Absalão a situação
deles enquanto o filho morava em Jerusalém e sequer o pai falava com
ele. Enfim, temos um rei cujo exército lutará contra o próprio
filho. De um lado um pai angustiado,
mas, ao mesmo tempo, um rei
cujos súditos e guerreiros esperam que faça justiça, que lhes
apoiem na batalha. Do outro, temos um Absalão rebelde, divisor, que
ultrajou as concubinas do pai para envergonhá-lo, que expulsou o
próprio pai do trono e que agora está a procura do pai para
matá-lo. Como pai compreendemos o coração de Davi. Como rei ele
ficou devendo neste episódio. Como o homem segundo o coração de
Deus ele prefigura o amor de Cristo por nós, que nos ama e não nos
trata segundo os nossos pecados. (Sl 103. 1 - 14)
3 – A morte de Absalão. v. 9 –
15
O texto dos versículos 7 e 8 dizem
que na batalha morreram 20 mil israelitas e mais do que isto morreram
pela floresta. Possivelmente a floresta era densa, com covas, betas,
cavernas entre os arbustos, e por isso quando o exército de Absalão
fugiu tiveram problemas nesta floresta. Possivelmente caíram em
covas, penhascos ou quem sabe foram mortos por animais selvagens.
Certo é que milhares foram mortos pela floresta, de uma alguma
forma.
3.1. Pendurado pelos cabelos
Absalão ao fugir prendeu o cabelo em
um carvalho, o que vendo um soldado de Davi o anunciou a Joabe, que
imediatamente trata de dar fim a vida do jovem rebelde. v. 14, 15.
Absalão poderia morrer por si só, mas o perfil guerreiro e
vingativo de Joabe não aceitaria ver o inimigo do rei morrer de
forma natural, sem que seu sangue fosse derramado. Quem sabe Joabe
lembrara-se de URIAS, um guerreiro inocente que o próprio Davi manda
matar por interesses pessoais, e agora o mesmo rei manda poupar a
vida de um filho rebelde que caminhava para matá-lo. Era pedir muito
para Joabe.
3.2. Triste fim para um filho do rei.
v. 17
Absalão teve um sepultamento sem
honra. Alguns homens, que sequer sabe-se os nomes, o lançaram “numa
grande cova, e levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras”.
O filho rebelde do rei teve um triste final de vida. Infelizmente
essa mesma história se repete em nossos dias quando muitos filhos
são desobedientes aos seus pais e vivem uma vida desregrada nas
drogas, álcool ou prostituição, e tem a vida ceifada nas ruas das
grandes e pequenas cidades, ceifados pela violência. Não são
poucos os casos de filhos de crentes fiéis que se rebelam contra o
Senhor e contra os ensinamentos da família e tem esse triste fim.
Outros
exemplos
são
os obreiros que rebelam-se contra a sua liderança, dividem igrejas e
ministérios inteiros em busca de poder e privilégios fora do tempo.
Infelizmente muitos desses obreiros, quando não se arrependem,
acabam por perder a visão do Reino de Deus e por ter um ministério
muito aquém do que o Senhor havia lhes preparado. Como Absalão, em
ambos os exemplos encontramos pessoas talentosas, mas que
desperdiçaram o seu talento e força por não serem submissos e
obedientes. De Absalão, pelo que parece pelo texto, não lhe restou
nem os filhos que tinha para sua memória (2 Sm 18. 18; 2 Sm 14. 27).
“A memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em
podridão”. (Pv 10. 7)
4 – As “boas novas”, nada
boas aos olhos de Davi. v. 19 – 33
Neste trecho do texto podemos extrair
lições muito proveitosas para nosso elevo espiritual e aprendizado.
Quando Absalão morre o mensageiro
Aimaás, filho do sacerdote Zadoque, se apresenta a Joabe e
voluntaria-se para levar as “boas novas” ao Rei Davi. Não era
uma mensagem fácil de levar, mas ele parece querer entregá-la,
visto que quando foi censurado por Joabe, que lhe informa que naquela
ocasião ele não seria o portador da mensagem, ele insiste com o
comandante para que pudesse dizer a Davi as novidades da batalha.
Depois de muita insistência Joabe permite que ele corra. Aimaás era
um habilidoso corredor e mesmo saindo atrás do cuxita enviado por
Joabe ainda consegue passá-lo e chegar a Davi antes dele.
Quando foi visto pelo sentinela e
anunciado ao rei que Aimaás estava vindo o monarca expressou que ele
traria boas notícias, pois era um homem de bem. Parece que Davi já
sabia que as palavras de Aimaás eram suaves, daquele tipo de pessoa
que não consegue falar a verdade, mas que a omite, mesmo com
prejuízo das pessoas e de sua própria reputação. E foi o que
realmente aconteceu. Ele “desconversa” e diz que viu um alvoroço,
mas não sabia o que tinha acontecido ao jovem Absalão.
Da mesma forma temos muitos
ensinadores e pregadores entregando as “boas novas” pela metade.
São pregadores que não tem mensagem, mas a exemplo de Aimaás fazem
questão de se apresentar para falarem daquilo que não estão
preparados ou que sequer sabem. A tarefa de falar a verdade ficou a
cargo de um cuxita desconhecido, cujo nome não é citado.
Aquele cuxita, mesmo sendo
ultrapassado por Aimaás não desiste, pois ele recebera ordem de
Joabe e tinha uma mensagem para ser entregue. Ao chegar na presença
do Rei Davi ele não exita e diz toda a verdade dos fatos. Fala da
vitória dos exércitos do rei e ao ser questionado acerca de Absalão
deixa entendido que o filho do rei estava morto. Não era uma
mensagem fácil de ser entregue, mas foi.
A lição que o cuxita nos ensina é
que recebemos uma ordem do nosso comandante, Jesus de Nazaré, e que
o nosso foco, o nosso objetivo é levar essa mensagem conhecida a
todos quantos pudermos alcançar. Na caminhada encontraremos alguns
que de alguma forma passarão por nós em busca de status e posições,
ou seja, não faltarão os “Aimaás”, mas nossos olhos não
poderão estar sobre eles, mas focados na ordem Daquele que nos
enviou. Há tantos que param no caminho ao se compararem a
mensageiros como Aimaás, que não sabe esperar a sua vez, o seu
tempo, além de desrespeitar o seu companheiro. Por causa de muitos
“Aimaás”, muitos “cuxitas desconhecidos” tem ficado a beira
do caminho, desistem de caminhar. Mas esse desconhecido deixa-nos a
lição de que devemos continuar caminhado e cumprindo o ministério.
No final prevalecerá a mensagem daquele que prima pela verdade.
5 – Não chore Davi! 2 Sm 18. 33
– 19. 10
A notícia da morte de Absalão joga
Davi literalmente na lona. O rei saiu da presença de seus súditos e
foi a um lugar reservado para chorar pelo filho morto. Este trecho
nos ensinam pelo menos três lições. Veja:
5.1. O amor incondicional de um pai. 2
Sm 18. 33; 19. 4
Impossível que fosse diferente.
Quando Davi passa a lamentar a morte de Absalão com choro, prantos,
com exteriorização de seus sentimentos, está sendo demonstrado o
amor de um pai por um filho, mesmo sendo um filho rebelde e maldoso
como Absalão. É bom lembrarmo-nos de que Davi era um homem “segundo
o coração de Deus”, e neste sentido representa bem o amor de Deus
por nós, visto que Ele enviou o seu Filho Amado para morrer em nosso
lugar “sendo nós ainda pecadores”. (Rm 5. 8). Além disso Deus
não nos trata segundo os nossos pecados, “nem nos retribui segundo
as nossas iniquidades”. (Sl 103. 10). Aqui não está chorando o
rei, está chorando o pai amoroso.
5.2. A perda da razão de um rei. 2 Sm
19. 1 – 10
Que Davi tinha todo direito de
lamentar a morte de seu filho isso é inquestionável. Porém, esse
lamento e choro deveria dar lugar a razão. Após chorar e lamentar
pelo filho rebelde, o Rei Davi deveria enxugar as suas lágrimas e
posicionar-se na entrada da cidade para receber os soldados vindos da
batalha, homens estes que arriscaram as suas vidas por ele, por sua
família e por seu reino. Ao contrário, ele se tranca e o que se
ouvem são gritos de um rei descontrolado, emocionalmente abalado e
incapaz de se levantar e enxergar a realidade.
Essa situação trouxe uma grande
tristeza sobre todos os que acompanhavam Davi em Maanaim, e aqueles
que voltavam da peleja e ouviam que Davi estava triste pela morte de
Absalão enchiam-se de vergonha e entravam cada um a seus aposentos.
Dá para imaginar a cabeça desses guerreiros? Dá para imaginar os
murmúrios pelos cantos de Maanaim?
Esse episódio ensina-nos o quão
difícil é a vida de um líder. Há momentos que ele deverá
abster-se de seus direitos de exprimir as próprias emoções em nome
do bem e interesse coletivo. Era o que aquele exército esperava. Era
o que Davi deveria ter feito, mesmo com dificuldade. É a expressão
máxima de que os interesses do povo de Deus, da obra de Deus estão
acima de nossos interesses pessoais. Difícil lição.
5.3. A voz da razão contra a voz da
emoção. 2 Sm 5 – 7
A decisão de Joabe de entrar na
presença de Davi e repreendê-lo parece um pouco questionável, mas
era preciso. Era o subordinado chamando a atenção do superior, o
súdito repreendendo o rei, mas a situação pedia essa atitude de
Joabe, que ao longo de sua história teve também seus altos e
baixos, mas nesse momento se apresenta de forma racional para tirar
Davi do seu êxtase de irracionalidade.
Aconselhar e opinar nunca é tarefa
fácil. Davi poderia ter visto essa atitude de Joabe como um
desrespeito. Mas o certo é que podemos aprender com as repreensões
dos que nos amam, e também daqueles que não nos querem bem. Devemos
filtrar as informações e tirar conclusões aplicáveis a cada caso,
sem julgarmos prematuramente as opiniões e conselhos que recebemos.
Davi poderia até não ter gostado, mas colocou em prática o
conselho de Joabe e se apresentou ao povo, que reanimaram-se e vieram
ao seu rei.
Essa atitude aconteceu no momento
certo, visto que em todas as tribos a fragilidade de Davi já estava
sendo assunto de “esquina”, pois o rei que livrou o povo de seus
inimigos e derrotou os filisteus, “fugiu da terra por causa de
Absalão”. (2 Sm 19. 9). Mesmo com o emocional abalado Davi teve
que assumir a vitória sobre Absalão, fortalecer a sua liderança e
assumir novamente o controle da nação. O resultado não poderia ser
outro, pois o povo chega a conclusão que sendo Absalão morto não
restava outra coisa a fazer senão trazer Davi de volta para reinar
em Jerusalém. A postura positiva de Davi após os conselhos de Joabe
reanimou o povo, e calou os seus adversários. A ordem desde então
era: “agora, pois, por que vos calais e não fazeis voltar o rei?”
(2 Sm 10. 10)
Conclusão: Não resta dúvida
de que Davi estava vivendo os resultados de seu pecado, e de que a
“espada” de que profetizara Natã mais uma vez visitara a sua
família. Davi vivenciou um dos dias mais amargos de sua vida, mas
ainda nessas condições adversas experimentou o livramento do
Senhor e aprendeu a duras custas.